Muito tem se falado de como o enredo de Distrito 9 é uma alegoria a respeito do apartheid na África do Sul, e o preconceito e segregação em todo mundo. Não é preciso ser gênio para fazer uma relação direta entre os aliens segregados em uma favela rodeada de violência e destruição e as minorias renegadas há centenas de anos em nossa sociedade. O diretor estreante Neil Blomkamp dá a dica quando, em uma ótima cena, mostra um garoto alienígena apontando semelhanças entre ele e o protagonista humano. “Nós somos iguais”, dispara o pequeno alien, e mesmo transtornado, o humano tem que admitir que é verdade.
Por ter essa ligação tão clara com a realidade é que Distrito 9 funciona tão bem. Com uma direção eficiente, Blomkamp desconstrói os clichês dos filmes de invasão logo nos primeiros minutos de projeção, quando, num estilo de documentário, mostra uma nave empacada nos céus de Johanesburgo e seus tripulantes sendo segregados no Distrito 9. A violência e a superpopulação decorridas dessa segregação fazem com que a população da cidade exija a remoção dos aliens para outro local.
Nada em Distrito 9 é obvio. Desde o herói, que se mostra fraco e preconceituoso no início e que passa por transformações físicas e emocionais, mas nunca veste por completo a carapuça de bom-moço, às seqüências de ação bem boladas, com enquadramentos interessantes e o bom uso da câmera na mão – um recurso que de tanto usado perdeu o impacto, mas que no filme se encaixa perfeitamente à narrativa proposta. Mas o ponto alto no filme realmente é o roteiro, que embora penda para maniqueísmo no terço final, é cheio de reviravoltas e situações limites, que faz quem está assistindo ora vibrar, ora se sentir angustiado. Ou alguém passa incólume a agoniante cena dos testes das armas alienígenas protagonizadas por um aterrorizado Wikus ou a truculenta entrada de uma força-tarefa no Distrito 9, com brutamontes armados ameaçando crianças-aliens?
Com um orçamento de 30 milhões de dólares, um troco para os padrões hollywoodianos atuais, Distrito 9 parece que custou 3 vezes mais. Os efeitos especiais são incríveis, tudo parece tão de verdade que é impossível não se sentir integrado à ação. Esperto em manter certo mistério com relação ao desfecho, Blomkamp sinaliza caminho para uma continuação, que se for tão inspirada quanto esse primeiro filme, será muito bem vinda.

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1 Response to "Distrito 9"

  1. Nath Said,

    Disse tudo, meu caro companheiro. Filme muito interessante. Vale a pena assistir!