A primeira boa notícia em relação a Chico Xavier é que é cinema. Diferente dos mais recentes trabalhos de Daniel Filho, que preocupados em atrair mais público pareciam especiais de fim de ano de televisão, Chico Xavier faz bom uso da linguagem cinematográfica com fotogafia competente e bons planos e movimentos de câmera. É interessante, por exemplo, a forma como o diretor comanda algumas sequências que mostram diálogos entre Chico e Emannuel, seu guia espiritual. A câmera fica a maioria do tempo focalizada no médium, enquanto a voz de guia é ouvida em off, dando a impressão de que só Chico pode vê-lo.

O roteiro, por outro lado, podia ser melhor construído. Acertando em cheio quando o intuito é emocionar, o filme acerta e erra ao passear pela vida do médium desde a infânica até a idade adulta. Se as passagens que o mostram criança conseguem uma unidade e fluência bacanas, o mesmo não pode se dizer das partes que retratam sua vida adulta. Em alguns momentos, as lembranças parecem picotadas demais, sem qualquer elo ligação entre elas ou recurso convincente de passagem de tempo.
Mas se o roteiro tropeça em algum momento, isso é suplantado pelas boas atuações que permeiam todo o longa. Matheus Costa, Ângelo Antônio e Nelson Xavier estão ótimos representando Chico Xavier em diversos momentos de sua vida. Enquanto o mais novo cria empatia imediata com o público, Ângelo Antônio faz um trabalho irrepreensível de postura corporal e até voz, e a semelhança física entre Nelson Xavier e Chico se mostra ainda mais impressionante no filme.

Em papéis menores, grandes atores abrilhantam o numeroso elenco. É o caso de Cássia Kiss, que mesmo aparecendo em pouco mais de cinco minutos, impressiona como uma mãe que se divide entre o pesar e o alívio enquanto luta pela liberdade do filho. Giulia Gam, Giovanna Antonelli e Luís Miguel também fazem bem ao filme em participações pequenas. Já Tony Ramos atua no piloto automático, repetindo macetes e tiques de outros personagens dele.

Esforçando-se para não ser um filme que falasse mais diretamente aos espíritas, Chico Xavier acaba por deixar de lado uma parte muito significativa da vida do médium. Embora a doutrina espírita esteja presente nas manifestações de espíritos e nas sequências em que Chico psicografa cartas e livros, a importância que Chico Xavier teve para o espiritismo no Brasil poderia ter sido melhor explorada.