Um dos filmes brasileiros de maior sucesso, Chico Xavier tem levado muitas pessoas ao cinema. Nós conversamos com o escritor Marcel Souto Maior, autor do livro As Vidas de Chico Xavier, que inspirou o filme de Daniel Filho. Marcel é jornalista, trabalhou no Correio Braziliense, Estado de São Paulo e Jornal do Brasil. Na televisão, Marcel começou como editor do Fantástico e hoje é diretor do programa Profissão Repórter, da TV Globo. O escritor também é autor de outros títulos como As lições de Chico Xavier, As vidas de Chico Xavier, Por trás do veu de Ísis, Almanaque da TV Globo e Se é para brincar Eu Também Gosto: Um Perfil Biográfico de Sonia Lins.
Confira a entrevista!
Coolt: Em 2010, o Brasil comemora o centenário de Chico Xavier. Qual foi a maior contribuição de Chico Xavier para a espiritualidade do brasileiro?
Marcel: A história de vida construída por Chico aponta caminhos novos para todos – para quem tem fé ou para quem não tem fé alguma. Chico viveu na contramão do individualismo e do materialismo, movido por um sentido de missão inabalável. A dele era divulgar o espiritismo e difundir a prática da caridade através dos livros e da ação. Escreveu mais de 400 obras, vendeu mais de 30 milhões de exemplares e doou toda a renda dos direitos autorais a instituições beneficentes. “Os livros não me pertencem. Eu não escrevi nada. Eles – os espíritos – escreveram”, repetiu ao longo dos 92 anos de vida. Aos que diziam que, mais cedo ou mais tarde, ele cairia – desmascarado como fraude, por exemplo -, Chico afirmava: “Não vou cair porque nunca me levantei.”. Morreu na cama estreita de seu quarto simples em Uberaba. De vez em quando – enquanto era atacado, criticado e perseguido -, Chico erguia as mãos para o céu e agradecia: “Graças a Deus aprendi a viver apenas com o necessário.”. Se nós encontrarmos um sentido de missão para nossas vidas e a medida do que é realmente necessário (vital) para cada um de nós, já teremos dado passos importantes. Passos de Chico. O Chico generoso e solidário, paciente e tolerante – este Chico tem um impacto forte naqueles que entram em contato com sua história.
Coolt: O senhor esteve com Chico Xavier em mais de uma ocasião. Como foram essas visitas?
Marcel: Chico estava doente, atormentado por sucessivas crises de angina e de pneumonia, quando o conheci há 15 anos. Tive 3 conversas mais longas com ele e acompanhei 4 sessões de psicografia em seu centro, o Grupo Espírita da Prece, em Uberaba. No centro, vi um Chico suave – sempre muito carinhoso – e um Chico obstinado, devotado à missão de consolar famílias em sofrimento pela perda de filhos. No nosso primeiro encontro, eu me aproximei de Chico e me apresentei assim: “Chico, sou um repórter lá do Rio de Janeiro e gostaria de sua autorização para escrever uma biografia sua.” Eu não tinha idéia de que Chico tinha pavor de repórter (foi sempre muito perseguido por eles). Chico me olhou em silêncio e, em seguida, deu uma resposta bem mineira. “Só Deus autoriza”. Eu reagi com uma resposta bem carioca. “E Deus autoriza?” Chico olhou para o alto e, apos alguns instantes, deu sua resposta com um meio sorriso paciente no rosto.” Deus autoriza sim. Conversa com minha família e com meus amigos. Eu gostaria de falar por último porque estou muito doente.”. Fui em frente.
Coolt: O senhor se considera um cético, mas já tem três livros publicados relacionados ao espiritismo (As Vidas de Chico Xavier, Por trás do Véu de Ísis e As Lições de Chico Xavier). O que lhe atrai tanto na doutrina espírita?
Marcel: Existe mesmo vida depois da morte? O que acontece com a energia que nos move quando o corpo deixa de funcionar? Os espíritos existem? Qual o sentido, afinal, de nascermos todos condenados à morte? Estas perguntas me movem enquanto percorro este território mágico e movediço também. Na verdade tenho muita vontade de ter fé.
Coolt: O filme Chico Xavier bateu recordes de bilheteria, e continua sendo muito visto. O Senhor ficou satisfeito com a obra no cinema?
Marcel: Muito satisfeito. Quando recebi o primeiro tratamento do roteiro escrito por Marcos Bernstein, fiquei impressionado. Sempre imaginei 10 cenas que deveriam estar num filme sobre Chico Xavier. E estas 10 cenas estavam no papel e estão hoje na tela! Brinco – falando sério... – que não terei uma vaidade de autor. A de ouvir amigos dizerem: “Seu livro é muito melhor do que o filme!”.
Coolt: Os filmes biográficos fazem sucesso no Brasil. Chico Xavier vem confirmar isso. O cinema brasileiro está construindo nossos heróis?
Marcel: O cinema nacional está apresentando ao brasileiro personagens que – durante muitos anos – ficaram injustamente fora das salas de exibição do país. Lotamos as salas de cinema para ver “Gandhi” há mais de 20 anos e só agora fazemos fila para conhecer a trajetória de Chico, um dos brasileiros mais impressionantes e intrigantes da história. Antes tarde do que nunca. Que venham muitas outras biografias por aí e que o cinema seja, cada vez mais, um espelho da nossa realidade, com nossas vitórias, fracassos, contradições.
Coolt: Ao pesquisar e elaborar um livro biográfico como é o caso de Chico Xavier, Sônia Lins e podemos dizer também o Almanaque da Tv Globo, o Senhor se descobre um pouco mais?
Marcel: Boa pergunta. Cada livro é mesmo uma espécie de “acerto de contas” com minha história e com temas que me interessam. Eu me vejo nos livros que escrevo, por mais diferentes que eles sejam. Escrever o “Almanaque da TV Globo”, por exemplo, me levou de volta ao passado, à infância e adolescência na frente da TV.
Coolt: O Senhor tem planos de se aventurar num livro de ficção?
Marcel: Tenho um livro de ficção já pronto – e engavetado. É um texto bastante polêmico, que foi vetado para publicação pela escritora Hilda Hilst (personagem-central desta ficção). Ou seja: não consegui me liberar totalmente da realidade para mergulhar no romance. Às vezes penso em eliminar as referencias a Hilda do texto para tirar os originais da gaveta, mas ainda não sei se devo “trair” assim a essência da narrativa.
Coolt: Para terminar, há algum personagem Brasileiro sobre quem o Senhor gostaria de escrever, hoje?
Marcel: Hoje estou envolvido num novo projeto: a biografia de Daniel Filho. Ao reconstituir a trajetória do diretor de “Chico Xavier” e de alguns dos principais fenômenos de audiência e de bilheteria do pais, contarei também uma parte importante, decisiva, da história da televisão – e do cinema – no Brasil. Um livro sobre Daniel é também um livro sobre a criação.
Confira a entrevista!
Coolt: Em 2010, o Brasil comemora o centenário de Chico Xavier. Qual foi a maior contribuição de Chico Xavier para a espiritualidade do brasileiro?
Marcel: A história de vida construída por Chico aponta caminhos novos para todos – para quem tem fé ou para quem não tem fé alguma. Chico viveu na contramão do individualismo e do materialismo, movido por um sentido de missão inabalável. A dele era divulgar o espiritismo e difundir a prática da caridade através dos livros e da ação. Escreveu mais de 400 obras, vendeu mais de 30 milhões de exemplares e doou toda a renda dos direitos autorais a instituições beneficentes. “Os livros não me pertencem. Eu não escrevi nada. Eles – os espíritos – escreveram”, repetiu ao longo dos 92 anos de vida. Aos que diziam que, mais cedo ou mais tarde, ele cairia – desmascarado como fraude, por exemplo -, Chico afirmava: “Não vou cair porque nunca me levantei.”. Morreu na cama estreita de seu quarto simples em Uberaba. De vez em quando – enquanto era atacado, criticado e perseguido -, Chico erguia as mãos para o céu e agradecia: “Graças a Deus aprendi a viver apenas com o necessário.”. Se nós encontrarmos um sentido de missão para nossas vidas e a medida do que é realmente necessário (vital) para cada um de nós, já teremos dado passos importantes. Passos de Chico. O Chico generoso e solidário, paciente e tolerante – este Chico tem um impacto forte naqueles que entram em contato com sua história.
Coolt: O senhor esteve com Chico Xavier em mais de uma ocasião. Como foram essas visitas?
Marcel: Chico estava doente, atormentado por sucessivas crises de angina e de pneumonia, quando o conheci há 15 anos. Tive 3 conversas mais longas com ele e acompanhei 4 sessões de psicografia em seu centro, o Grupo Espírita da Prece, em Uberaba. No centro, vi um Chico suave – sempre muito carinhoso – e um Chico obstinado, devotado à missão de consolar famílias em sofrimento pela perda de filhos. No nosso primeiro encontro, eu me aproximei de Chico e me apresentei assim: “Chico, sou um repórter lá do Rio de Janeiro e gostaria de sua autorização para escrever uma biografia sua.” Eu não tinha idéia de que Chico tinha pavor de repórter (foi sempre muito perseguido por eles). Chico me olhou em silêncio e, em seguida, deu uma resposta bem mineira. “Só Deus autoriza”. Eu reagi com uma resposta bem carioca. “E Deus autoriza?” Chico olhou para o alto e, apos alguns instantes, deu sua resposta com um meio sorriso paciente no rosto.” Deus autoriza sim. Conversa com minha família e com meus amigos. Eu gostaria de falar por último porque estou muito doente.”. Fui em frente.
Coolt: O senhor se considera um cético, mas já tem três livros publicados relacionados ao espiritismo (As Vidas de Chico Xavier, Por trás do Véu de Ísis e As Lições de Chico Xavier). O que lhe atrai tanto na doutrina espírita?
Marcel: Existe mesmo vida depois da morte? O que acontece com a energia que nos move quando o corpo deixa de funcionar? Os espíritos existem? Qual o sentido, afinal, de nascermos todos condenados à morte? Estas perguntas me movem enquanto percorro este território mágico e movediço também. Na verdade tenho muita vontade de ter fé.
Coolt: O filme Chico Xavier bateu recordes de bilheteria, e continua sendo muito visto. O Senhor ficou satisfeito com a obra no cinema?
Marcel: Muito satisfeito. Quando recebi o primeiro tratamento do roteiro escrito por Marcos Bernstein, fiquei impressionado. Sempre imaginei 10 cenas que deveriam estar num filme sobre Chico Xavier. E estas 10 cenas estavam no papel e estão hoje na tela! Brinco – falando sério... – que não terei uma vaidade de autor. A de ouvir amigos dizerem: “Seu livro é muito melhor do que o filme!”.
Coolt: Os filmes biográficos fazem sucesso no Brasil. Chico Xavier vem confirmar isso. O cinema brasileiro está construindo nossos heróis?
Marcel: O cinema nacional está apresentando ao brasileiro personagens que – durante muitos anos – ficaram injustamente fora das salas de exibição do país. Lotamos as salas de cinema para ver “Gandhi” há mais de 20 anos e só agora fazemos fila para conhecer a trajetória de Chico, um dos brasileiros mais impressionantes e intrigantes da história. Antes tarde do que nunca. Que venham muitas outras biografias por aí e que o cinema seja, cada vez mais, um espelho da nossa realidade, com nossas vitórias, fracassos, contradições.
Coolt: Ao pesquisar e elaborar um livro biográfico como é o caso de Chico Xavier, Sônia Lins e podemos dizer também o Almanaque da Tv Globo, o Senhor se descobre um pouco mais?
Marcel: Boa pergunta. Cada livro é mesmo uma espécie de “acerto de contas” com minha história e com temas que me interessam. Eu me vejo nos livros que escrevo, por mais diferentes que eles sejam. Escrever o “Almanaque da TV Globo”, por exemplo, me levou de volta ao passado, à infância e adolescência na frente da TV.
Coolt: O Senhor tem planos de se aventurar num livro de ficção?
Marcel: Tenho um livro de ficção já pronto – e engavetado. É um texto bastante polêmico, que foi vetado para publicação pela escritora Hilda Hilst (personagem-central desta ficção). Ou seja: não consegui me liberar totalmente da realidade para mergulhar no romance. Às vezes penso em eliminar as referencias a Hilda do texto para tirar os originais da gaveta, mas ainda não sei se devo “trair” assim a essência da narrativa.
Coolt: Para terminar, há algum personagem Brasileiro sobre quem o Senhor gostaria de escrever, hoje?
Marcel: Hoje estou envolvido num novo projeto: a biografia de Daniel Filho. Ao reconstituir a trajetória do diretor de “Chico Xavier” e de alguns dos principais fenômenos de audiência e de bilheteria do pais, contarei também uma parte importante, decisiva, da história da televisão – e do cinema – no Brasil. Um livro sobre Daniel é também um livro sobre a criação.
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