Hugo Moss é inglês, mora no Brasil desde 1987 e recentemente foi naturallizado brasileiro. Seus serviços de consultoria (análise técnica, assessoria e outros trabalhos de criação) e tradução especializada de roteiros são conhecidos pela maioria de produtoras, cineastas e roteiristas brasileiros. Em 2001, Hugo lançou o curso online "O Roteiro de cinema- uma introdução" no site www.roteirista.com, que já atraiu várias pessoas. Hugo também escreveu um dos livros mais bacanas de formatação de roteiro, extremamente necessário em qualquer estante de um aspirante a roteirista! Confira a entrevista e participe da promoção - via twitter - que vale um livro autografado do Hugo Moss. (ganhadora: @Simonescs)
Coolt: Como surgiu a idéia de montar um curso de roteiro online?
Hugo: Foram duas motivações. organizar e administrar cursos ao vivo é muito trabalhoso e queria disponibilisar de uma maneira mais aberta, sem as limitações/desafios de horários/local. O outro motivo (maior) era atender um problema e uma demanda que existem até hoje, na verdade: a escasez de ensino cultural de alta qualidade fora dos grandes centros urbanos, principalmente Rio e São Paulo. Desde 2001 (pré-banda larga!) quem tem acesso à internet, seja onde for, num lan house numa cidadezinha em Acre ou qualquer lugar, pode aprender sobre o mundo de roteiros. ao longo dos anos tive alunos inscritos de todos os estados brasileiros, os principais países da Europa, os EUA e todos os países de língua portuguesa.
Coolt: Eu acho a idéia de um concurso de roteiros, como a que tem no seu site, uma coisa maravilhosa. Esses concursos têm rendido frutos?
Hugo: Filmes produzidos, você quer dizer? sim, embora poucos, acredito. eu não fico necessariamente sabendo do que acontece caso a caso, mas recebo pedidos de contato com roteiristas todo mês, e passo para frente. muitas vezes são professores de faculdades procurando roteiros para filmar com seus alunos. Agora, os frutos mais amplos são constantes e muito concretos também, eu diria, porque são na média 60 a 80 roteiristas se mobilizando para produzir um roteiro a cada três meses, portanto representa muita atividade e criatividade, assim o concurso oferece um grande estímulo para jovens criadores, que é na verdade seu primeiro e último objetivo.
Coolt: Seus alunos ajudam a manter em você a inspiração para os roteiros?
Hugo: A troca criativa dos Grupos de Criação (oficinas) é muito inspiradora para mim, fico conhecendo pessoas a histórias novas, muitas vezes fascinantes, sempre surprendentes, e mergulhamos numa troca bastante intensa durante as aulas e até nos meses depois.
Coolt: Alguma vez, durante os exercícios do curso, você ficou maravilhado com um roteiro de algum aluno? Deu vontade de produzir?
Hugo: “Sim” à primeira pergunta, muitas vezes. como todos nós, adoro ser maravilhado e supreendido por um trabalho criativo; “não” à segunda, mas isto é simplesmente porque não sou produtor. Já deu vontade de assistir aos resultados de eventuais produções baseadas nestes roteiros, que talvez seja na verdade a essência da sua pergunta.
Coolt: Quando aconteceu a greve dos roteiristas nos EUA, no fim do ano de 2007, as pessoas puderam ver a importância dessa profissão. Acha que ela ainda é desvalorizada?
Hugo: Existe mais consciência da importância do roteiro para uma produção bem-sucedida, mas aqui no Brasil o trabalho geralmente ainda é muito desvalorizado no sentido literal da palavra, ou seja, a maioria de roteiristas é mal remunerado. Quando falo isto não me refiro tanto aos números em reais em si, mas da porcentagem de um orçamento atruibida à criação e desenvolvimento do seu elemento chave, a história. produtores ainda são muito tímidos na hora de investir tempo e dinheiro no roteiro, talvez por não entender muito bem o trabalho criativo envolvido. Um puta figurino ou plano traveling complicado de grua pode custar uma fortuna, mas o resultado é mais palpável, dá para medir com mais precisão a diferença que o investimento fez. é mais fácil gastar dinheiro nisso, afinal muitos produtores brasileiros atuais são só homens e mulheres de negócios, inclusive muitas vezes sem especial capacidade de ler um roteiro com o olhar cinematográfico de quem tem isto no sangue.
Coolt: O que você considera mais difícil de fazer, um roteiro original ou um roteiro adaptado?
Hugo: Seria impossível generalizar, são duas tarefas muito complexas, processos muito duros, cada um com suas vantagens e desvantagens. alguns roteiros dão mais trabalho do que outros, independente do material bruto.
Coolt: Às vezes eu tenho a impressão de que no Brasil acontece com muita freqüência o roteirista ser também o diretor, produtor, enfim. Você acha isso um problema? Ou todo roteirista tem um pouco de diretor também?
Hugo: O único perigo neste sentido surge quando um diretor acha que seu roteiro é bom, pronto para rodar, mas não é. Quem terá a coragem de dizer? Ninguém contratado pela produção, com certeza. o produtor já discutimos. Infelizmente, neste caso, fica por conta da platéia, tarde demais.
Coolt: Além dos cursos e consultorias que você presta, está trabalhando em algum projeto de roteiro?
Hugo: Nos últimos dois anos tenho aberto novos rumos de criação, formei um grupo de atores chamado IMPROV, e temos desvendado personagens e dramas através de exercícios e investigações criativas, uma interlocução, uma troca de olhares. mergulhei nos ensinamentos do russo Michael Chekhov e hoje em dia ministro também oficinas para atores e diretores (www.films.com.br/chekhov). Enfim, continuo com os mesmos serviços de sempre, mas ampliei muito meus horizontes e meu olhar sobre o mundo de criação.
Coolt: O que a pessoa que deseja entrar nesse ramo precisa ter pra seguir um bom caminho?
Hugo: Tesão, generosidade, disciplina, curiosidade, um caderno de anotações, coragem. paciência, uma lixeira sorte, caneta ou lápis, respeito, auto-crítica. carinho e precisa desligar a internet.
Coolt: Pra terminar, me diga o último filme que o roteiro encheu seus olhos!?
Hugo: Este não seria na verdade o último, certamente, mas um filme brasileiro que aplico muito em sala de aula e que queria mencionar aqui, sendo um raro exemplo da mais pura linguagem cinematográfica, é O Ano Em Que Meus Pais Saíram de Férias, de Cao Hamburger. é um filme onde a história é carregada nas costas das ações e reações de personagens ricas, ou seja, descobrimos a história com os olhos, cinema em sua essência. e, como disse, muito raro.
Hugo: Foram duas motivações. organizar e administrar cursos ao vivo é muito trabalhoso e queria disponibilisar de uma maneira mais aberta, sem as limitações/desafios de horários/local. O outro motivo (maior) era atender um problema e uma demanda que existem até hoje, na verdade: a escasez de ensino cultural de alta qualidade fora dos grandes centros urbanos, principalmente Rio e São Paulo. Desde 2001 (pré-banda larga!) quem tem acesso à internet, seja onde for, num lan house numa cidadezinha em Acre ou qualquer lugar, pode aprender sobre o mundo de roteiros. ao longo dos anos tive alunos inscritos de todos os estados brasileiros, os principais países da Europa, os EUA e todos os países de língua portuguesa.
Coolt: Eu acho a idéia de um concurso de roteiros, como a que tem no seu site, uma coisa maravilhosa. Esses concursos têm rendido frutos?
Hugo: Filmes produzidos, você quer dizer? sim, embora poucos, acredito. eu não fico necessariamente sabendo do que acontece caso a caso, mas recebo pedidos de contato com roteiristas todo mês, e passo para frente. muitas vezes são professores de faculdades procurando roteiros para filmar com seus alunos. Agora, os frutos mais amplos são constantes e muito concretos também, eu diria, porque são na média 60 a 80 roteiristas se mobilizando para produzir um roteiro a cada três meses, portanto representa muita atividade e criatividade, assim o concurso oferece um grande estímulo para jovens criadores, que é na verdade seu primeiro e último objetivo.
Coolt: Seus alunos ajudam a manter em você a inspiração para os roteiros?
Hugo: A troca criativa dos Grupos de Criação (oficinas) é muito inspiradora para mim, fico conhecendo pessoas a histórias novas, muitas vezes fascinantes, sempre surprendentes, e mergulhamos numa troca bastante intensa durante as aulas e até nos meses depois.
Coolt: Alguma vez, durante os exercícios do curso, você ficou maravilhado com um roteiro de algum aluno? Deu vontade de produzir?
Hugo: “Sim” à primeira pergunta, muitas vezes. como todos nós, adoro ser maravilhado e supreendido por um trabalho criativo; “não” à segunda, mas isto é simplesmente porque não sou produtor. Já deu vontade de assistir aos resultados de eventuais produções baseadas nestes roteiros, que talvez seja na verdade a essência da sua pergunta.
Coolt: Quando aconteceu a greve dos roteiristas nos EUA, no fim do ano de 2007, as pessoas puderam ver a importância dessa profissão. Acha que ela ainda é desvalorizada?
Hugo: Existe mais consciência da importância do roteiro para uma produção bem-sucedida, mas aqui no Brasil o trabalho geralmente ainda é muito desvalorizado no sentido literal da palavra, ou seja, a maioria de roteiristas é mal remunerado. Quando falo isto não me refiro tanto aos números em reais em si, mas da porcentagem de um orçamento atruibida à criação e desenvolvimento do seu elemento chave, a história. produtores ainda são muito tímidos na hora de investir tempo e dinheiro no roteiro, talvez por não entender muito bem o trabalho criativo envolvido. Um puta figurino ou plano traveling complicado de grua pode custar uma fortuna, mas o resultado é mais palpável, dá para medir com mais precisão a diferença que o investimento fez. é mais fácil gastar dinheiro nisso, afinal muitos produtores brasileiros atuais são só homens e mulheres de negócios, inclusive muitas vezes sem especial capacidade de ler um roteiro com o olhar cinematográfico de quem tem isto no sangue.
Coolt: O que você considera mais difícil de fazer, um roteiro original ou um roteiro adaptado?
Hugo: Seria impossível generalizar, são duas tarefas muito complexas, processos muito duros, cada um com suas vantagens e desvantagens. alguns roteiros dão mais trabalho do que outros, independente do material bruto.
Coolt: Às vezes eu tenho a impressão de que no Brasil acontece com muita freqüência o roteirista ser também o diretor, produtor, enfim. Você acha isso um problema? Ou todo roteirista tem um pouco de diretor também?
Hugo: O único perigo neste sentido surge quando um diretor acha que seu roteiro é bom, pronto para rodar, mas não é. Quem terá a coragem de dizer? Ninguém contratado pela produção, com certeza. o produtor já discutimos. Infelizmente, neste caso, fica por conta da platéia, tarde demais.
Coolt: Além dos cursos e consultorias que você presta, está trabalhando em algum projeto de roteiro?
Hugo: Nos últimos dois anos tenho aberto novos rumos de criação, formei um grupo de atores chamado IMPROV, e temos desvendado personagens e dramas através de exercícios e investigações criativas, uma interlocução, uma troca de olhares. mergulhei nos ensinamentos do russo Michael Chekhov e hoje em dia ministro também oficinas para atores e diretores (www.films.com.br/chekhov). Enfim, continuo com os mesmos serviços de sempre, mas ampliei muito meus horizontes e meu olhar sobre o mundo de criação.
Coolt: O que a pessoa que deseja entrar nesse ramo precisa ter pra seguir um bom caminho?
Hugo: Tesão, generosidade, disciplina, curiosidade, um caderno de anotações, coragem. paciência, uma lixeira sorte, caneta ou lápis, respeito, auto-crítica. carinho e precisa desligar a internet.
Coolt: Pra terminar, me diga o último filme que o roteiro encheu seus olhos!?
Hugo: Este não seria na verdade o último, certamente, mas um filme brasileiro que aplico muito em sala de aula e que queria mencionar aqui, sendo um raro exemplo da mais pura linguagem cinematográfica, é O Ano Em Que Meus Pais Saíram de Férias, de Cao Hamburger. é um filme onde a história é carregada nas costas das ações e reações de personagens ricas, ou seja, descobrimos a história com os olhos, cinema em sua essência. e, como disse, muito raro.
Via twitter?? E cadê o link, meu povo!?
"O que a pessoa que deseja entrar nesse ramo precisa ter pra seguir um bom caminho?
(...)e precisa desligar a internet."
Eu JAMAIS poderia seguir essa profissão! rsrs
Muito boa a iniciativa da entrevista, Hugo Moss tornou-se referência quanto a formatação aqui no Brasil, até porque não há outro autor preocupado com o tema por aqui. Parabéns pelo blog !
Aloysio Roberto Letra